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24
Nov09

 

...É que essa conversinha do " não sei o que tanto tens para fazer..." ou então a pérola das pérolas do " tu até moras sozinha...", que deve querer dizer "Tu moras sozinha, não tens filhos" aka " Tu sempre que chegas a casa a única tarefa que tens a cumprir é garantir o amolecimento contínuo do sofá", já me começa a provocar dores reumatóides no dedo médio da mão direita. 

E depois ainda há as cobranças. Que eu acho fofo! Juro que acho! Do tipo: "Opá, então nunca mais disseste nada? Quando nos vens visitar?" Sim, acho tudo isto ternurento. Só que às vezes insistem em fechar com chave de ouro  : "Mas que tanto tens tu para fazer?...."

 

Nada. Aliás, encontro-me em constante estado vegetativo 24 horas por dia, aproveitando para contemplar o pôr-do-sol em dias que não chova, ou a espreitar a tempestade que cai lá fora em dias que não faça sol. Quando por vezes "acordo" do estado vegetativo até leio....ou vou ao cinema. Passeio e visito amigos. Escrevo no blogue diariamente. Dou miminhos à família, ao namorado. Perco horas a brincar com os gatos. Vou a restaurantes. Vou a Londres e Barcelona. Toco viola e vou ao teatro. Cuido de mim. Passo horas numa banheira com espuma até ao telhado. Fecho os olhos e durmo. Durmo muito.

 

E isto era tudo muito bom não fosse a vida que escolhi. Em que optei por não viver à "sombra da bananeira" de ninguém. Não me encostei debaixo da asa da minha mãe, do meu pai ou de homem nenhum. Em que optei por ter o meu espaço custasse o que custasse. E custa. Muito trabalho. Durante um ano fiz horas extras no meu emprego para suportar as despesas. Horas essas, que me iam dando cabo do juízo e da saúde. Tive de desistir, por essas razões e por mais algumas. Uma delas, o projecto Cake Mania que começou a ver alguns frutos ao fim de algum tempo e por ter descoberto nele,aquilo que verdadeiramente queria fazer na vida.

Mas não, não é fácil.

Ficar até às 5h da manhã a fazer bolos para entregar no dia seguinte. Dormir umas horas e ir trabalhar no emprego "regular". Engolir o almoço à pressa e aproveitar a hora para ir a correr aos Correios enviar encomendas.

Porque sim, existem bastidores deste projecto que criei.

Tudo, desde o início, TUDO, foi criado por mim. E talvez nem passe pela cabeça de certas alminhas, o tempo que levou por exemplo a fazer o vídeo de apresentação . Mas antes ainda, o logotipo e as dores de cabeça que me deu até eu decidir qual o ideal. E a isto tudo junta-se "conversas" informáticas com as quais estou muito pouco familiarizada. Como no blogue em que não entendendo absolutamente nada de edição css (WTF??), arrisquei e mudei completamente o visual inicial. E também as fotografias. Todas tiradas por mim. Tiro umas 127 ao mesmo bolo para demorar uma meia-hora a escolher 2 ou 3. E ainda há a edição das fotos. E ainda há textos para escrever. E há ainda e-mails para responder. De encomendas, de dúvidas, de esclarecimentos, de marcação de datas etc, etc.

E depois...os bolos...os personagens centrais de toda a história....levam tempo a fazer. Da decoração nem se fala. E em tudo o que tenho de pensar antes de os fazer...tenho os ingredientes? tenho de ir comprar alguma coisa? Bolas....e quando me falta um corante?..uma caixa?....uma forma? como vou embalar estas bolachas? qual a fita para fazer os laços devo escolher?

Tudo passa por mim. Sozinha.

 

A tudo isto ainda se junta uma vidinha.

Estou cá desconfiada que as pessoas que vivem sozinhas também devem ter cotão nas suas casas. E roupinha, para passar a ferro. Presumo igualmente que se alimentem e sujem a cozinha. E  com aquela história do "ah mas és sozinha e sujas muito menos do que numa casa em que viva muita gente" fico sempre a matutar na ideia de que um azulejo tanto custa a limpar numa casa como noutra. Mas isso sou eu, que apesar de aceitar que uma casa de família dê muito trabalho, revolta-se com a ideia generalizada de que viver sozinho é muito bom e fácil....ah e sempre com aquela expressão no fim: "quem me dera a mim!!...."

 

A minha vidinha não é pior nem melhor que a de qualquer outro. É a minha. A que eu escolhi.

É certo que às vezes gostava de dormir um pouco mais do que 4 ou 5 horas. Levantar-me tarde e passar o dia a preguiçar. É certo que às vezes gostava de não chegar atrasada ao emprego cheia de sono que só passa com excessiva dose de cafeína. É certo que gostava de sair de lá às 8h e tal da noite, chegar a casa e descansar, apenas isso mas não poder.  É certo que às vezes gostava de não ter aquele emprego e dedicar-me a tempo inteiro naquilo que quero.

É certo que hoje, ao receber um telefonema, tive noção da falta de compreensão para com todas as minhas "faltas" que não as profissionais. Um "Mas o que é que tens tanto para fazer?" que me fez saltar a tampinha. Um telefonema que recebi meia hora depois de chegar a casa, em que optei, não por ir logo tomar banho e dormir mas alapar-me em frente ao PC para continuar um trabalho que tinha deixado pendente.

E tudo isto me leva a pensar que talvez muitos julguem que tenho andado este tempo todo a saltar à corda e a não conseguirem compreender que apenas luto por um futuro que queria que fosse o meu.

 

Aos leitores deste blogue, digo-vos até já. Bem sei que a Gaja não é a mesma de quando tinha tempo para piadolas quase diárias. Sinto que até o blogue se ressentiu com tudo isto, com esta falta de disponibilidade.

 

Por essa razão é apenas um " Agora vou só ali fazer um bolo e já venho..."

 

Bj da Gaja

 

 

 

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20 comentários

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De ateu a 24.11.2009 às 11:23

Pois é Gaja. A independência provoca esses efeitos secundários. Também não é nada que não se possa compensar com uma aspirina-de-forçade-vontade .

Vais ver que os dias e as noites vão melhorar e passas a ter as tuas 8 horas de sono.

O teu Sol resplandecente de dia e de noite um céu lindo de estrelas só para ti.

Porta-te mal

Bjs

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