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29
Abr08

Adormecida

por Gaja

Uma semana, foi quanto bastou.

Por vezes não é preciso muito tempo para nos deixarmos ir abaixo. Para mim bastou uma semana. E hoje sim, sinto-me adormecida.

Numa luta contra ela, e antes que acabasse, fugi dois dias para fora daqui. Para longe daqui. Queria estar noutros lugares, com outras pessoas que não as mesmas, para que me pudesse aperceber se aquilo que habitualmente tenho, me faria falta. Mas não.

Não senti vontade de regressar.

Então, fechei-me num quarto nessa noite e vasculhei o mapa de alto a baixo enquanto as lágrimas escorriam. Talvez tenham molhado essa parte. Talvez fosse disso. Mas naquele mapa não estava o caminho para a minha casa.

Hoje sim, sinto-me adormecida.

Acabei o horário de trabalho e sentei-me numa cadeira. Apenas porque sim. Depois meti-me no carro e fiz o caminho habitual. O telemóvel tocou e eu fingi que não ouvi, passei um sinal vermelho com indiferença e de seguida apeteceu-me fechar os olhos e esperar o que acontecesse.

Parei para comprar tabaco. Custou-me dizer a marca e despedir-me no final da compra. Ultimamente ando assim. Custa-me falar. Sinto os pensamentos desordenados e tudo o que eu digo não faz sentido. Aos outros, eu sei que é díficil de fazer compreender estes meus silêncios demorados. Eu sei. Mas o que eu também sei é que hoje em dia, no alto dos meus 31 anos já me dou ao luxo de fechar-me na minha concha quando eu bem entendo. Sem truques nem máscaras, com a vantagem de me aperceber quem verdadeiramente está do meu lado. Quem me dá a mão sem ser preciso pronunciar uma única palavra.

Hoje estou assim, adormecida, vazia, apática e indiferente a tudo o que me rodeia. Isto passa. Tudo passa. Mas hoje estou assim. E quem me der a mão hoje, não me peça para falar nem me faça ouvir nada.

 

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