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Gosto de blogues de culinária, porque gosto.
Mas gosto de blogues de culinária escritos com pormenores. Quanto mais mundanos melhor!
E que escrevam que fizeram aqueles Carapaus de Escabeche porque sobrou peixe frito no dia anterior. E que o filho não gosta nada e que por causa disso fez uma massinha de atum para ele.
É assim que os blogues de culinária se querem. Carregadinhos de simplicidade. Onde a mulher (a maioria) diz que no fim de semana, depois de ter aspirado a casa de alto a baixo, passado a roupa toda da semana, levar os filhos ao cinema, discutir com o marido, fazer as pazes com o marido (invariavelmente na noite de sábado), dar banho ao cão, escovar os gatos, fazer a depilação e ir ao cabeleireiro (as mulheres movem um mundo em 2 dias) ainda teve paciência para, no domingo, experimentar aquela receita de bolos de arroz para o lanche.
E depois lá vem a parte do: 200 gr disto, 150gr daquilo...
E eu quero lá saber disso! O que me interessa a mim é saber como é que aquilo lhe correu. E se ela me disser que aquilo até podia ter corrido melhor mas que a experiência é para repetir porque o marido enfardou logo uns 5 à saída do forno e ela outros 6 (é sabido que as mulheres são um bocadinho mais gulosas..), aí sim! Pode ser que vá espreitar a receita!
Um blogue de culinária não deve ter apenas as receitas. Aliás, devia ser proibido! Deveria existir algum ministério que impedisse esta falta de respeito pelos leitores ávidos de pormenores! Uma receita não passa disso mesmo, uma receita. Feita com dosagens, ingredientes e meia-dúzia de explicações de como a executar.
Mas isso não chega! O que preciso é saber o estado de espírito de quem a preparou, quais as razões que a levaram a fazer, qual o dia da semana, a sogra foi lá jantar?, de como ficou, sobrou alguma coisa?, vai utilizar os restos noutra receita improvisada? os míudos gostaram? Coisas assim...
O MEC diz num livro delicioso dele que ando a ler, Em Portugal não se come mal, que para uma qualquer receita resultar na sua plenitude, a pessoa que a executar tem de estar de trombas. E nisto não poderia concordar mais com ele. Grandiosos petiscos já me saíram destas mãozinhas em dias de neura! Em que ir fazer o jantar para a cozinha era a última coisa que me apetecia fazer. Em que tachos, panelas e frigideiras fazem duelo com as mais ruidosas bandas de heavy-metal. E no final, espeto com aquilo (jantar) no meio da mesa e ouvindo uns posteriores "Uauu" solto um "Humpft!!" ....
E porque os blogues de culinária são feitos por pessoas, em que todas elas têm uma vida e personalidades próprias, em que gosto de saber em que dias cozinharam de trombas, as suas rotinas, onde compraram determinados ingredientes etc, excluo à partida, todos aqueles que apenas me apresentam receitas.
Ora! Para isso vou ali ao Pantagruel!