A vidinha de uma gaja

Não subi à cadeira. As passas...bem essas comi umas 27 antes da meia-noite. Enquanto a contagem decrescia comi mais umas 6 e dos desejos esqueci-me. Beijinhos, abraços, música, barulho, confusão. Comigo, uma das pessoas mais importantes da minha vida. Dos outros, os outros que lá estavam diziam-me pouco. Faltavam-me era os outros. Os que me movem e me fazem brilhar os olhos. Fui para a rua. Na esperança de encurtar a distância entre dois continentes com um botão de telemóvel. Não conseguia! Não tinha ligação! O cigarro estava quase a acabar e o frio quase me cortava a alma. Ao fundo, fogo de artifício. Luz! Cor! Alegria! Pessoas iam passando com tampas de panelas fazendo um barulho ensurdecedor acenando para aqui e ali: "Bom Ano!!!"

Apaguei o cigarro no chão e carreguei no botão vermelho da conversa intercontinental. Virei-me e vi-o pela janela : Na cozinha do restaurante, aquele rapaz que continuava a lavar a loiça de cabeça baixa.

Talvez interiormente nem tivesse contado os segundos que faltavam para a meia-noite mas sim as horas que ainda tinha pela frente até abraçar quem lhe faz brilhar os olhos...