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Poderia dizer que por vezes não é fácil. Que existem noites que se dormia mais um pouco, que existem outras em que apetece ir jantar fora, ir ao cinema, passear, sem hora marcada para voltar. Existem alturas em que me apetece ver um filme, um programa na tv, vegetar no sofá sem qualquer tipo de interrupção. Existem outras em que me tento lembrar como era a vida antes de tudo isto.
Mas também uma certeza existe: de que nada supera tudo o que tenho vivido nos últimos 4 meses e meio. Ser mãe será tudo isto e muito mais. Gostar, amar, sorrir, sofrer em conjunto, instinto de protecção, querer muito, com muita força, que tudo corra bem. Cantar, abraçar, beijocar aquele que me preenche. Saltar-me o coração do peito ao ver um momento de ternura entre ele e o pai.
Cantar...cantar...beijar...sussurar...."dorme bem..."
Pois é....D. Dinis lá comeu a papa. Ou parte dela. Ok, os babetes comeram mais e os 358 guardanapos também. Mas não foi mau para primeira experiência, notou-se que ele até estava a gostar mas devíamos ter dado quando ele estava com menos fome porque assim chegou a um ponto que começou a stressar. Quase que o ouvi dizer: "Epá!!! Isto demora muito ou quê!!???"
Hoje vamos ver como corre :)
...Depois, claro, nada é do que estávamos à espera. Acho que nada nos prepara para a chegada de um bebé às nossas vidas. Talvez por prever isso mesmo não participei em nenhum tipo de aulas de preparação para o parto, li alguns artigos sobre o assunto e fiquei por aí mesmo. Ouvi sim, várias opiniões, contaram-me experiências, avisaram-me para descansar ao máximo antes do nascimento do bebé, disseram-me muitas vezes a frase "a tua vida vai mudar e muito, prepara-te", e eu dizia que sim, que tinha noção disso. Mas nada, mesmo nada nos prepara e nos dá a real dimensão do que será a vida depois do parto.
Tudo muda. Lembro-me do dia em que chegámos a casa, bebé na alcofa, ai que lindo, bonitinho, fofinho, ai que alegria. Sentámo-nos a almoçar às 3h da tarde e passados uns 5 minutos bebé a chorar. HUMMM?? Como é possível?? Então isto agora vai ser assim? Uma gaja já nem pode almoçar? Só tinha dado tempo de enfiar umas 3 batatas fritas na boca! Ora bolas!
E depois é isto. Chega-se à noite, um cansaço extremo, habituada durante toda a vida a dormir uma noite inteira apercebo-me que a brincadeira acabou. Dorme-se mal, e o que se dorme é sempre num estado de alerta.
A recuperação (lenta) da episiotomia foi outro factor para me deixar à beira de um ataque de nervos! Não arranjava posição para nada. A dormir tinha dores, sentada tinha dores, a andar tinha dores, se espirasse mandava um grito a seguir. Tinha vontade de andar ao estalo a toda a gente e quando me diziam a frase "ninguém te disse que ia ser fácil" começava a rosnar.
Depois surgem as opiniões daqui e de acolá. Ai mete-o assim, ai mete-o assado, ai isso é fome, ai isso é sono, ai devias fazer assim. Então médicos e enfermeiros, cada um caga a sua posta. Bardamerda para eles todos, pois logo durante o primeiro mês de vida do bebé desconfiava que ele ficava com fome mas com esta história agora do aleitamento materno e blablablablabla (sim, porque pela OMS uma mãe que opte pelo leite artificial fica quase conotada como uma criminosa), insisti e insisti em dar peito à criança. Resultado: quando completou um mês de vida estava exactamente com o mesmo peso com que nasceu. Porreiro não? Pois, não.
A partir daí jurei a mim mesma, em primeiro lugar, a confiar no meu instinto. Começou com o leite artificial e BUMMM, teve um pulo de crescimento brutal. Passou a dormir melhor, a estar mais tranquilo. Ainda hoje não me perdoo por ter ido na "conversa" de médicos e enfermeiros durante um mês e não fazer aquilo que eu achava correcto.
E o bebé? Pois...o bebé. Sim, é um facto que quando nasceu senti de imediato um amor enorme por ele, que aliás já sentia ainda ele estava na minha barriga. Penso que essa seja a base do que aí vem mas....não me lixem!...ouvir/ler coisas como já tenho feito, de mães que no momento do nascimento dizem "aiiii esta é a minha vida, a razão do meu ser, amo-te até ao fim do mundo, conheço-te como a palma da minha mão..." Não. Não conhecemos! Que disparate. Na maternidade ainda estamos todas numa fase de deslumbramento a adorar os meninos mas depois cai a ficha. Chegamos a casa, olhamos para eles deitados naquele lugar que ainda há uma semana atrás estava vazio e perguntamos: "olá..quem és tu?". Começam a chorar. Não sabemos o que fazer. Ainda não conhecemos as suas manhas, preferências. A casa ganha novos sons, rotinas ou falta delas. "oi? o que é isto pá?" perguntamos algumas vezes e outras ainda paira nas nossas cabeças a frase "mas porquê que me fui meter nisto?!"
Ainda o estou a conhecer. E ele a mim. É um processo moroso, previsto a durar uma vida inteira. O amor esse aumenta uma média de 3 kg por dia com tendência a aumentar. Acho que me tornei uma melhor pessoa, o meu rapaz diz que sim, que ando mais bem disposta. De manhã quando chego ao berço e ele sorri para mim digo-lhe um bom dia cheio de som (nunca gostei de dizer bom dia a ninguém, não perguntem).
Foi comigo que começou a palrar, canto para ele e ele ri, foi comigo que deu a primeira gargalhada e eu outra a seguir.
Já fez 4 meses e hoje vou tentar dar-lhe a primeira papa. Amanhã conto como foi :)