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Ando com pouca paciência para política, desde há 2 semanas que perdi o interesse, que não vejo rumo, que só vejo imbecis nos comandos deste país.
Preocupou-me muito mais a cena que assisti ontem. Da pastelaria onde há 20 anos ia com os meus amigos em tempo de adolescentes, onde partilhávamos aquele salão de chá com as velhotas que iam com as amigas à tarde beber um chá e comer torradas. Sempre cheia aquela casa, cheia de pessoas, barulho e com a montra sempre repleta de tudo e mais alguma coisa.
Não havia quase ninguém na época que não encomendasse os bolos de aniversário para a família, ali naquela pastelaria tão famosa onde até hoje fazem os melhores côco e nata de Portugal.
Ontem, ao atravessar a estrada na sua direcção, senti que algo estava a morrer. O empregado simpático que conheço há tantos anos estava encostado à porta e ao entrarmos, eu e o meu filho, ele fez o mesmo. Não que fosse preciso, pois a sua colega estava atrás do balcão, talvez por brio profissional (empregados da velha escola) ou então, porque me deu a sensação que talvez fosse um dos poucos momentos agradáveis daquele dia. Talvez o tenha alegrado, a entrada daquele puto vestido com uma t-shirt com padrão camuflado e boina na cabeça, o que sempre desperta sorrisos nas pessoas.
Nem um cliente estava naquela pastelaria, outrora tão famosa. Nem um. Num domingo à tarde. Nem um.
Sentia-se um silêncio avassalador e o meu puto da boina, nem imagina, nem ficou a saber, como aquilo já foi.
Quando saímos, quis subir para um carrinho que ali estava à porta, mas o volante estava todo destruído e pouco depois quis descer. O empregado voltou para a porta e tornou a encostar-se.
Talvez porque lhe custasse aquele silêncio avassalador lá de dentro. "Adeus Dinis" disse ele com aquele ar dele alegre, para de seguida mergulhar num ar que não conhecia, de inconformidade e tristeza.
Poderemos eternamente discutir política, fazer debates, tecer comentários, ler manchetes de jornais, poderemos levar a vida nisto. Pouca utilidade terá. A realidade é uma pastelaria à beira da falência e a extinção dos melhores côco e nata de Portugal.