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Vai sendo muito comum ver relacionamentos a terminarem, casamentos infelizes, casais insatisfeitos. Em todos é sempre visível a falta daquilo que, isso sim, faria com que tudo corresse melhor. Respeito.

Muitas pessoas tendem a cair no erro de achar que o amor chega, que vence tudo, todas as divergências, todos os conflitos e todas as mágoas. Mas não. Invariavelmente a falta de respeito mata tudo à sua volta, até o amor.

 

A maioria das pessoas têm tendência a seguirem modelos comportamentais, já eu fujo disso a sete pés. Certa vez disse ao meu Rapaz que se ele entrasse em casa e não me apetecesse naquele momento dar-lhe um beijo, não o daria, estava já avisado. Ficou muito chocado, o drama, o horror. Expliquei-lhe que faria mil vezes mais sentido dar-lhe aquele beijo num momento em que me fosse irresistível oferecê-lo. Que não o daria no momento "politicamente correcto" mas sim quando fizesse sentido. E ele entendeu. E ele respeitou-me.

 

Um casamento é das coisas mais trabalhosas do mundo, é um exercício diário e complexo. Quem está a pensar dar esse passo, pense bem, pense uma, duas ou trezentas vezes antes de o dar. Pense que vai ter de abdicar de muitas coisas, sim, principalmente quando chegam os filhos.

Há algo que me faz imensa confusão, pessoas que se casam ou vão viver juntas e acham (e assim o fazem) que podem continuar a fazer a mesma vida de quando eram solteiros. E não devem. NÃO PODEM. E que isto não dê azo a más interpretações. Um casal deixar os filhos com os avós e ir uma noite à discoteca, a um concerto, ao cinema ou ao teatro, óptimo. Um dos membros do casal, muito esporadicamente, ir sair com os amigos, óptimo também, um casal não tem de andar "colado" a toda a hora.

O que está tremendamente errado é um dos membros do casal, por norma homens, irem desfrutar das suas actividades, dos seus passatempos, dos seus amigos, repetidamente, fazendo notar a sua ausência constante numa casa que é a deles. Durante estas ausências e dentro destas casas, estão por norma mulheres que andam com o "mundo às costas" cuidando dos filhos e das mil tarefas domésticas.

 

Onde é que está o respeito aqui? E o amor, será que resiste muito tempo com vidas assim?

 

Um casamento tem de ser encarado como uma empresa com dois sócios. Ninguém no seu perfeito juízo deixa a sua empresa entregue apenas ao outro sócio. Tem de estar lá. Para que os dois, cada um com a suas competências façam a empresa ter lucro, é simples.

 

Cá em casa nunca fomos apologistas das listas ou divisão de tarefas. Certa vez o meu Rapaz resumiu a coisa muito bem "está para fazer, faz-se, aquele que estiver livre, faz". Ou então também pode ir pelo lado das capacidades. Eu cozinho mais rapidamente mas ele muda um pneu do carro, coisa que nem sonho como fazer.

 

Desengane-se que viver junto com alguém é apenas dormir de mão dada, pequenos almoços servidos na cama ou ver filmes bem juntinhos. É tudo isso mas também uma quantidade inimaginável de merdices diárias. São as meias que ele deixa espalhadas, são os perfumes dela que ocupam 4m2 da casa, é o lixo que ele não despejou, é o TPM dela, são os putos que não se calam.

Qualquer um dos dois está proibido de fugir disto tudo. Têm de aguentar. Juntos.

 

E é aqui que entra o respeito que falava no início, apenas com ele se consegue. Respeitar mas também sentir-se respeitado. E não esquecer, ninguém muda ninguém. Não cair na ilusão de que ao fim de uns anos aquilo, caso esteja a correr mal, vai correr melhor. Não, não vai.
Se desde o início de um relacionamento não existir respeito pelo espaço, pelas ideias, pelo trabalho do outro, não é o tempo que vai mudar isso.

 

 

Outra coisa bem diferente teria sido a vida para eles, se tivessem sabido a tempo que era mais fácil ultrapassar as grandes catástrofes matrimoniais que as misérias minúsculas do dia-a-dia

Gabriel Garcia Marquez em "O Amor nos Tempos de Cólera"

 

 

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