A vidinha de uma gaja

...fui com a minha mãe e o piqueno a uma daquelas lojas gigantescas onde se vende tudo para a casa.
Vende tudo para a casa, inclusivé brinquedos. Estão a ver o filme?
Ora querendo eu analisar em detalhe todas as chávenas, tupperwares, piaçabas e afins, era constantemente arrastada pelo braço para a secção da cangalhada dedicada às criancinhas.
Não aceitei ir quando ele quis e estalou uma das maiores birras que tenho memória.
Fui imediatamente com ele para a rua enquanto a minha mãe pagava as coisas que levava. A choradeira continuava, os berros também, e eu em silêncio a fumar um cigarro a fingir que nem o ouvia.

Entretanto, já passada dos cornos, decidi baixar-me e ter uma conversa com ele.

Eis senão quando, noto que umas pessoas se aproximam e uma mulher, que pela voz me pareceu ter 250 anos, disse numa pronúncia inglesada "póbrézinho....está a churar....don't cry....." ao que eu pensei de imediato "rais partam mais à velha, que me vem estragar toda esta lição de pedagogia infantil!!"

Olhei
Era a Betty.

E ao lado, o José Castelo Branco.

E ao lado, o motorista.

Muito sorridentes e espalhafatosos deram as boas tardes e entraram na loja. Cumprimentei-os e de seguida eu e o meu filho ficámos num silêncio constrangedor.

Até hoje, e como escrevo no início já lá vão uns meses, nunca mais houve uma birra do género.
Obrigada Zé. Tás cá dentro.