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Há pouco, na rua, a minha vizinha disse que o neto não come nada na escola. Este puto é o maior estroina cá da rua, estão a ver o Tom Sawyer? Ele É o Tom Sawyer! E o que eu gosto deste miúdo não vem nos livros! Mas adiante....ele não come nada na escola, dizia a vizinha, que não gosta lá muito da comida da escola. Que o lanche era quase sempre um pão com queijo ou fiambre ou manteiga, leite e uma peça de fruta. Que a mãe às vezes mandava-lhe um sumo. Sim, claro, um sumo, achei muito bem. Vamos cá injectar açúcar no puto para ele andar mais animado.
Vejam bem que às vezes até servem lentilhas ao almoço! O disparate!!! Qualquer dia, quando dermos por ela andam a dar rúcula aos miúdos não?
Não pode ser, não pode ser!
Isto num mundo ideal era tudo alimentado a bollycaos, bollytrampas, sumos, gomas, batatas fritas, pizzas, hamburguers e aperitivos diversos nas escolas. Que isto assim não pode continuar. As crianças precisam de se alimentar!
Se não gostam das lentilhas substituam isso rapidamente por puré industrializado que assim já comem.
E fica tudo mais descansado. E bem alimentado.
Então mas é preciso ir à China para ver isto?
O meu pai é do tempo em que se fechava na cozinha a mexer uns ovos, tesouro naquela altura, para ele e para o irmão. A irmã ficava do lado de fora a implorar para entrar ao que ele lhe respondia "Estás muito gorda!"
O meu pai é do tempo em que aos 6 anos ia a pé para Carcavelos espreitar por debaixo dos toldos das barracas da praia e roubava bananas dos ricos que tinham ido a banhos.
O meu pai e os irmãos ficavam à espera do autocarro que lhes trazia uma familiar com carcaças para eles, as quais comiam assim, mesmo a seco.
Hoje em dia escrevem-se livros sobre alimentação infantil, dão-se dicas, conselhos, ensinam-se formas mais apelativas para que os petizes comam a sopa toda, o peixe todo. É um drama alimentar crianças, é um horror, é um martírio.
E eu pergunto-me inúmeras vezes, se a escassez, a necessidade e até a fome não resolveriam esses problemas em 3 tempos.
O que farias se visses uma criança com frio?
Antes de mais quero referir que A cena da semana continua a ser algo que não segue nenhuma "linha editorial". Quanto muito é desejável que seja semanal, quando possível. Já aqui disse que tanto pode abordar um tema completamente mundano como outro que envolva assuntos mais sérios ou da actualidade, sendo esse o caso de hoje.
Na última semana tornou-se difícil fugir ao assunto "conflito". A abertura dos telejornais estão cheias de imagens de confrontos, na Ucrânia, na Síria e na Venezuela e começa a ser assustadora toda a informação que chega até nós diariamente.
Sensibilizou-me particularmente a notícia do menino com 4 anos que atravessou a fronteira da Síria perdido dos pais. Pensei imediatamente no meu, que tem quase a idade dele e de como seria se isso lhe acontecesse.
Quem estaria lá para o acudir?
E se ele tivesse frio?
De forma a alertar para o que está a acontecer às crianças na Síria e para angariar fundos, uma ONG criou um vídeo. A ideia é simples: um menino numa paragem de autocarro em Oslo na Noruega treme de frio e vai dizendo às pessoas que lhe roubaram o casaco numa excursão e que está ali para se encontrar com a professora. O vídeo foi feito para captar a reacção dos noruegueses.
Vejam o que acontece:
Às vezes ouço pais a dizerem "aiiiiiiiiiiiii o meu filho é um terror para dormir","aiiiiiiiiiii sabem lá, quem é que diz que ele dorme sozinho?", "aiiiiiiii quer dormir na cama connosco todas as noites".....e por aí fora. E eu ainda não percebi qual a intenção de dizer merdas destas, a pintarem os filhos como uns diabinhos com vontades próprias que tornam a vida dos seus papás um verdadeiro inferno na hora de dormir.
Cada caso é um caso, cada um faz como quer mas convenhamos.....não são os filhos que não querem dormir sozinhos, são os pais que permitiram que isso acontecesse desde cedo.
Por aqui a coisa aconteceu da seguinte forma: a partir dos 4 meses o meu filho passou para o quarto dele, saiu do aconchego da sua alcofa no quarto dos pais e emigrou para o seu monumental berço. Se não fiquei preocupada? Fiquei. Se ia lá muitas vezes? Ia. Com o passar do tempo a preocupação deixou de ser tanta e o facto dos quartos serem lado a lado deixava-nos também descansados.
Até por volta do seu ano e meio adormecia sempre ao colo. Ou seja, tinha de cantar, embalar e só quando adormecia colocava-o no berço.
Se não teve noites terríveis? Claro! Principalmente numa fase que todos passam em que acham que à noite (tipo 4/5h da manhã) é que é boa altura para brincar. Se não tive noites que me apeteceu mandá-lo pela janela? Tive pois. Mas analisando bem as coisas à distância chego à conclusão que as vezes em que isso aconteceu nem contam para as estatísticas.
Chegou a uma altura que achei que a história do colo não fazia muito sentido e que seria urgente parar com esse hábito. Como o fiz? Tive de tornar a hora de deitar numa completa animação. "Ah e tal não estimulem muito os miúdos antes de irem para a cama." Pois fiz precisamente o contrário. Agarrei nuns 15 peluches, criei vozes para cada um deles (sim, eu faço vozes de bonecos), do género: um urso grande com voz grossa e um coelho pequeno com voz fininha. Convencia o meu filho que todos estavam ali para dormir, que todos queriam dormir ao pé do Dinis, todos chamavam "Didi!" "Didi!"....e aos poucos a coisa lá foi. Começou a ficar na cama, sem precisar de colo e junto de todos aqueles amigos. No ínicio eu ficava por ali um pouco, até que gradualmente consegui sair do quarto e ele tranquilamente deitado na sua cama, lá adormecia ao fim de algum tempo.
Ainda hoje utilizo este método. Todos os dias lá adomece, não com 15 peluches mas talvez uns 6 ou 7. Dá-me um beijinho ainda no meu colo, deita-se, depois levanta-se para me dar um abracinho (faz isto religiosamente todas as noites) e depois sim, junta-se aos seus amigos.
Digo-lhe "A mãe vai ali e já cá venho ver como estás. Até já!"...."Até já, mãe!"
Ai senhores, até chorei ao ver este vídeo! Estou capaz de passar o resto da vida só a comer rabanetes! Que coisinha mais ternurenta :)
Chegou da creche, quis brincar às cozinhas, tirou todos os utensílios dele, fez um frango assado no forno de plástico. Fui eu em direcção ao meu fogão, aquele onde se faz comida a sério, naquela de fazer o jantar. Foi atrás de mim. Quis uma banana. Larguei o que estava a fazer para ajudá-lo a descascar. Deixou cair a banana. Lavei a banana. Comeu a banana. Quis ir para o quintal. Espantalhou todos os gatos e puxou alguns rabos.
Quis ir para o quarto. Tirou os carrinhos, tirou os bonequinhos, tirou os peluchezinhos. Quis calçar as novas crocs do Faísca. Larguei o que estava a fazer e ajudei-o a calçar. Já não queria as crocs e queria mas não queria, mas não quero mas quero. Quis ver o Ruca. E viu, 2 minutos e 10 segundos de Ruca. Quis ir fazer xixi. Quis manter no colo, sentado na sanita, um carro e alguns bonecos. E depois mandou-os para o lavatório e depois queria-os de novo e depois quase que caía da sanita abaixo. E eu ali, sentada num bidé (experimentem) à espera.
Quis ir ver o Ruca de novo. Ao passar as gravações perguntei-lhe se queria ver o Toy Story. Que sim, queria. "Tens a certeza?" "Sim" "Mas mesmo a certeza?" "Sim" Fica a ver o Toy Story. Viro costas e quando alcanço apenas a asa da primeira panela....."Eu não quero o Toy Story, eu quero o Rucaaaaa!"
Meti o Ruca. Fui passar a sopa, a varinha mágica avariou-se, mandei-a para o lixo, fui buscar o copo dos batidos e eis senão quando estala uma birra épica "eu queroooo ver!!" (não me perguntem) e berros e choradeira e o caneco.
"Vamos tomar banho" única forma de acalmar um puto birrento: metê-lo debaixo de água (tentem não o afogar apesar de tudo)
"Eu não quero tomar banhooooooooooooooooo!!!!!" "Eu quero brincar!! eu não quero brincaaaar! eu quero ver o Rucaaaaaaa!! eu não quero ver o Ruca"
Enfiei-o na banheira quase à força. Mandou um pontapé na água. Fiquei com as calças encharcadas e nesta fase e quando estes episódios ocorrem ou este acumular de episódios, juro que fico a milímetros do teclado do computador, com o site do OLX aberto e a escrever o seguinte anúncio:
Dá-se puto com 2 anos e meio.
Bem comportado tem dias, obediente quando lhe apetece,
faz as necessidades na sanita e nas cuecas também, é muito dócil e bruto.
Motivo: Falta de paciência espaço
Mas depois como aquilo lhe passa (a água faz milagres), eu não envio o anúncio. E passa-me também.