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"...Mais ainda, deixe-me dizer-lhe uma coisa que não confiei ainda a ninguém. A minha avó tinha uma teoria muito interessante, dizia que embora todos nasçamos com uma caixa de fósforos no nosso interior, não os podemos acender sozinhos, precisamos, como na experiência, de oxigénio e da ajuda de uma vela. Só que neste caso o oxigénio tem de vir, por exemplo, do hálito da pessoa amada; a vela pode ser qualquer tipo de alimento, música, carícia, palavra ou som que faça disparar o detonador e assim acender um dos fósforos. Por momentos sentir-nos-emos deslumbrados por uma intensa emoção. Dar-se-á no nosso interior um agradável calor que irá desaparecendo pouco a pouco conforme passa o tempo, até vir uma nova explosão que o reavive. Cada pessoa tem de descobrir quais são os seus detonadores para poder viver, pois a combustão que se dá quando um deles se acende é que alimenta a alma de energia..."
De Laura Esquivel em "Como Água para Chocolate"
"Ela tinha descoberto, a pouco e pouco, a incerteza dos passos do marido, as suas mudanças de humor, os seus lapsos de memória, o hábito recente de soluçar a dormir, mas não os interpretou como sinais inequívocos da oxidação final, mas sim como um regresso feliz à infância. Por isso não o tratava como a um velho difícil mas como a um menino senil, e esse engano foi providencial para os dois, porque os salvou da compaixão.
Outra coisa bem diferente teria sido a vida para eles, se tivessem sabido a tempo que era mais fácil ultrapassar as grandes catástrofes matrimoniais que as misérias minúsculas do dia-a-dia. Mas se alguma coisa tinham aprendido juntos era que a sabedoria só nos chega quando já não nos serve para nada."
De Gabriel García Marquez em "O Amor nos Tempos de Cólera"
Ontem estava a dar na RTP o filme "Como água para chocolate", não vi todo porque já cheguei quase no fim. Apesar de já o ter visto 2 vezes não me importava de ver a 3ª. E a razão é simples. É uma história em torno da comida (ok já sei, é o meu fetiche que querem?), dos seus sabores, cheiros, sensações que provoca. Mostra-nos, aquilo em que eu sempre acreditei, que o acto de preparar uma refeição é um acto de amor ( claro que naqueles dias em que não me apetece cozinhar mas tenho que o fazer na mesma é mais de ódio e raiva, mas é só mesmo nesses dias).
Já li o livro umas duas vezes e quando vi o filme fiquei fascinada pois aquilo que estava a ver correspondia exactamente aquilo que eu tinha imaginado enquanto lia. Por todas estas razões aconselho a quem nunca leu o livro ou viu o filme que o faça pois não se vai arrepender (este blog está a ficar muito publicitário, qualquer dia começo a cobrar).