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"ai que não gosto nada da mudança"
"ai que eu já sabia como fazer e agora não. expliquem-me!!!!"
"ai que mudou para pior"
"ai que o sapo é horroroso"
"mimimi tecatecateca"
Foi para ouvir isto que estas pessoas andaram a trabalhar de sol a sol? Hum?
Foi para isto que estas pessoas andaram a levar a marmita para o trabalho com o arroz de tomate, almoçaram em frente ao computador e jantaram o resto da patanisca já fria que sobrou?
É este o trato que dão a estes vossos amigos, que coitaditos, nem dormem para responder às vossas questões relacionadas com blogues, tipo "como é que eu meto a máquina da roupa a lavar?"
Agora pensem. Reflitam no que acabaram de fazer, que isto é gente para desembrulhar o origami do sapo, metê-lo numa pasta e emigrarem para Angola.
Depois eu quero é ver como é que vocês se amanham.
O dia-a-dia, os acontecimentos comuns e a vida de sempre desviam-nos o olhar e os sentidos para rotinas estupidificantes e pensamentos rotineiros. Porque é mesmo assim. Não chega a ser esforço agir dessa forma quase automática de viver.
Mas o tempo ganha horas diferentes em alturas decisivas e de mudanças. Tempo esse que parece parar ou pelo menos abrandar. Torna-se um companheiro nestas alturas fazendo-nos parar igualmente para que possamos focar o olhar e apurar os sentidos para aquilo que verdadeiramente vai tendo importância.
Nesta fase apercebi-me com clareza do mar de gente que tenho à minha volta. Dos amigos e das palavras de apoio. De outras pessoas que nem esperava. Do irmão e a sua paciência infindável para me aturar. Do pai pendurado num armário com um dedo cheio de sangue a tentar prender um esquentador. Da madrasta, que em três tempos me resolveu o assunto dos electrodomésticos. Da prima e do marido com uma carrinha quase camião que me levaram a malfadada cama e das palavras que ela me disse no final da entrega.
E a mãe. A minha grande força. Mulher de garra e coragem. Com 53 anos feitos ontem e com aquela luz, característica dela. Luz essa, que me tem guiado e amparado em alturas mais complicadas. E eu quando for grande, quero ser como ela...
Custava muito os senhores do IKEA, colocarem um aviso nas instruções dos móveis do género: "Este móvel depois de montado, nunca mais na vida poderá ser desmontado"?
Custava? Pronto, eu sei que os suecos têm lá a vida deles e que secalhar nem se lembraram deste pormenor. Mas a mim tinha dado um jeitaço quando hoje tentei desmontar a cama.
E amanhã ela vai seguir viagem...assim como está. Inteira.
É coisinha grande, porque é. E se ela não passar aquele corredor vou já avisando que vou chamar aqui um sueco para me resolver o problema. Ou então vai a parede abaixo. Das duas uma. Mas que ela vai lá chegar inteira, ai isso vai!
Renda - Check (Doeu, pois concerteza que doeu...)
Luz - Check (Grande EDP. Contrato feito por telefone, simpatia, rapidez, baratíssimo fazer a ligação e ainda dois gajos bons lá em casa a darem à luz. Isto sim, foi serviço de qualidade.)
Água- Meio Check ( Uma antipática do caraças no SMAS, só podem ligar a água segunda-feira. E dá cá 47€ para o fazer. Mas que filha da putice! Não gostei!)
Gás -Check
Fogão e frigorífico - Meio Check (Vão entregá-los amanhã)
Esquentador - Meio Check (Falta o paizinho ir lá instalá-lo à menina)
Levar tudo para lá - Um quarto de Check (Por falar nisso, talvez não fosse má ideia ir tratar disso em vez de estar aqui a escrever isto...)
Internet - Nem Check nem meio Check (Ainda não tratei disso e talvez durante uns tempos vá andar ainda mais desaparecida daqui)
E pronto!
De "maneiras" que é isto...
...sem ritmo coordenado mas ao mesmo tempo no compasso certo.
Tudo ao mesmo tempo, sem tempo para nada mas ao mesmo tempo com tempo para tudo. Para o que tem de ser. Agora.
E a música. Essa que me tem acompanhado nestas últimas semanas. E a música. Essa que eu tinha deixado lá para trás. Essa que agarro agora com ganas de ouvir e sentir. Que de repente me fez lembrar quem eu era. E que aos poucos me trouxe de volta.
Caraças pá!
Tinha saudades de mim!
Sinto que estou numa altura de mudanças. Sinto que vão acontecendo devagarinho. Mas sinto-o. Sinto essencialmente que preciso delas. Para seguir.....de outro modo.
Preciso de mudar de trabalho. Não tem urgência. Mas sinto que é preciso.
Lidar com a morte já está a ser normal demais para mim.
Lidar com a demência também.
Lidar com a velhice está a envelhecer-me ao mesmo tempo.
(sim, isto ainda é o cabrão do TPM....)